Mais um sobre os trinta

Quando eu era adolescente, admirava as mulheres do alto dos seus 30 anos, bem vestidas, articuladas, parecendo sempre saber o que é preciso ser feito. Queria logo pular pra parte onde eu também já teria 30, estaria casada, com minha casa, diploma de doutora, fazendo pesquisa, ensinando e viajando o mundo, era minha definição de vida bem sucedida (umas metas bem modestas, tranquilo demais!).

Por muitos anos acreditei que os adultos 30+ tinham essas características que sempre quis pra mim justamente por ter conseguido tudo antes de trintar. Pronto, dei a largada para uma corrida maluca de conquistas em tempo recorde. O coelhinho branco da Alice, afobado olhando pro relógio e correndo como se a vida dependesse disso fui eu por tantos anos que nem sei. Pensei que o tempo, por si só, trouxesse essa paz de ser quem se é como em passe de mágica.

O bom é que foi só mais um dos incontáveis achismos equivocados da lista. Até os 30 dá tempo de errar bastante, de quebrar a cara, a cabeça e o coração tantas vezes que você não tem outra opção a não ser se embasbacar com o tamanho do caos um tempo, remendar tudo, respirar fundo e seguir pra um novo dia.

Até os 30 dá tempo também de aprender que a vida não tem um momento mágico onde tudo se resolve. Pelo contrário, as coisas ficam mais complexas, mais pesadas. Onde o drama de “meus pais nunca me entendem” dá lugar ao “será que vai dar tempo de eles serem avós?”. Começa a compreender a importância de guardar o dinheiro em previdência privada além de INSS pra tentar garantir uma aposentadoria digna (e você já sabe exatamente o que são essas siglas dos tributos todos). Se já tiver filhos, às vezes só queria um dia em silêncio. Se não tem, às vezes só queria um lar pra dividir as pequenezas do dia-a-dia.

A graça da vida balzaquinha é lidar com tantos pesos diferentes na leveza, brincando de equilibrista, sabendo que se cair (de novo), em algum momento vai levantar. E a gente aprende que cada coisa tem mesmo seu tempo, que ter expectativa é humano, se frustrar é mais ainda, aprende a digerir e às vezes até dar nome pro que sente, estar mais atento a si, aos outros, à vida.

Atrás dos sorrisos meio displicentes, destacando umas ruguinhas que começam a surgir, tem uns planos que foram picotados, varridos. No meio dos fios brancos — que apareceram bem antes do esperado — tem umas noites insones de preocupações sobre o que não se tem controle. Debaixo da fala tranquila tem um turbilhão de emoções aguardando o momento de saírem. Dentro dos ouvidos, talvez com algum nível de surdez (geralmente seletiva, faz bem pro cérebro), tem espaço de sobra pra escutar com mais discernimento. E no fundo dos olhos que por vezes parecem cansados, tem o brilho de quem aprende todo dia a se reinventar.

Que venham os próximos trinta! Mas num dia de cada vez, guardei o relógio.

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